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sexta-feira, 18 de outubro de 2013



Belo Horizonte.Avenida Afonso Pena,correria ,e ela ali,solta,livre,só em meio a multidão que vai e vem.
Sentada na escadaria da igreja São José,vê a cidade em movimentos,e ali parada frente a tudo e sem querer nada.
Cidade que sempre marcou sua vida.Ela constata que ama BH,mas que é um amor de longe,não para ficar,para apreciar e voltar quando sentir saudade ou quando  for preciso.
Sempre vem,passa um dia,depois volta para sua cidade.Diz que aqui toma um banho de cultura e se revigora,no entanto permanecer para sempre não.É como se fosse um algo que necessita,que faz falta,mas como ela mesma insiste,só um pouco e nada mais.
Adora quando vai à Pampulha,ao Mercado Municipal.Está próxima ao Palácio das Artes,porém
não está com ânimo de chegar até lá.
Pensa na primeira vez que assistiu um filme no Cine Brasil,na Praça Sete,comprou o ingresso e entrou sozinha,quase todas as pessoas estavam acompanhadas e ela só.Foi bom demais,descobria a sua liberdade.
BH,foi seu refúgio.
Quantas vezes ,só pelo gosto de sair de casa,sem rumo,fazer compras,seus livros  e seus discos de músicas italianas e francesas,não havia internet,só na capital é que encontrava seus apetrechos,era feliz.
Hoje é diferente,finge ser feliz,mas é impossível.Uma lágrima começa a brotar."Não,chorar não,uma escolha errada e ter que pagar por isso"
Em nome de uma religião,da honestidade,da família,carregou o fardo,chorou,sorriu,aceitou,tentou entender, se fez família,assumiu a missão de mãe,esposa,e ainda por cima defendia, enganando a si mesma,não dando conta da escolha errada que fizera,mas quando aceitou aquele casamento,tentou acreditar que seria feliz,que teria filhos,que teria um companheiro,não viajaria mais sozinha,teria  um parceiro,,tudo seria melhor.
Quantas viagens fizera,só, e ia para Guarapari, conhecia pessoas fazia amizades,trocavam cartas,lembra de uma amiga que fez e que por muitos anos se comunicavam,ia para Porto Seguro em excursões,Paraguai,Argentina,Poços de Caldas,Valadares,Barbacena,conhecia pessoas diferentes,mas sempre sem um companheiro.
Quantas viagens imaginárias,com aquele que teve medo dela,do desafio de viver um amor.
O marido?Grosso,e carinhoso quando queria,só pensava em seus interesses,egoísta,dupla personalidade,dizia que a amava,mas a deixa só,nos bares todas as noites,algumas vezes o acompanhava e percebia uma outra pessoa,em casa bruto com seus filhos,algumas poucas vezes percebia que precisava mudar seu jeito,fazia uma viagem até o litoral,passavam uns dias lá,nem sempre a viagem era boa,pois ele bebia e novamente a grosseria.
Nunca o abandonou,pois de certa forma sente culpa,ele era de um outro mundo e ela quis trazê-lo para o seu mundo,tempo perdido,conseguiu partilhar do mundo dele,fez amizade e até chegou a amar essa família,é querida por eles.
O problema não era culturas diferentes e sim aquele jeito tosto,que não sabe amar nem a ele mesmo.
Agora se encontra só,em uma cidade grande que ela conhece bem,não se sente solitária,ela tem seus livros,seus pensamentos soltos,seus sonhos e isso ninguém tira dela.
Sempre carrega uma máquina fotográfica,pois tem uma paixão enorme por fotos.
Não se sente feia nem bonita,sabe que tem um carisma,mas beleza não.
Às vezes pensa no infinito,no que poderá vir,nas coisas do alto,é católica praticante e a religião é sua âncora,conhece a história e sabe que pecadora e santa,uma antítese perfeita.
Quando ouve músicas italianas parece uma outra pessoa,algo se modifica,ela canta,faz poemas, e  esquece de seus problemas,mas no fundo ela sente uma ponta de esperança e saudade.
É segura de si é sabe como nunca se defender,sente que nunca foi amada de verdade,só por seus filhos e sua mãe,mas amor de homem,não.
Estudou e ainda continua trabalhando,lê muito,conversa com várias pessoas sobre diversos assuntos,sabe que tem um jeito diferente e às vezes esquisito de ser,faz uso com maior naturalidade das novidades tecnológicas,já descobriu conhecidos na internet,comunica-se com várias pessoas do mundo em inglês e acha interessante ,pois vai aperfeiçoando.
Adora sua profissão,apesar de não ser muito valorizada.
Participa dos movimentos sindicais,fala contra o governo,luta por sua categoria,é honesta em seu trabalho,participa de movimentos na igreja ,adora sair sem rumo e fotografar a natureza,tem um blog onde coloca um pouco de tudo e desabafa.
Chora de raiva e enxuga muitas lágrimas,busca a alegria de viver a cada instante,mas no fundo quando está só,pensando,se sente rejeitada,algo que a feriu no passado,que nunca entendeu,mas não cobrou nada,algo que feriu sua alma,buscou esquecer,fez de suas leituras viagens e trabalho o meio de ser feliz.
Há dias em que bate uma vontade de chorar,saudade insistente,dor que não entende,e de repente deixa passar essa cortina de fumaça e volta novamente ao batente.
Agora está só,seus filhos estudando fora,o marido faleceu.
Está livre,sente falta de companhia.
Com a viuvez se percebe presa,nada a preencher o vazio.
Sente falta de quem a maltratou?Não, sente falta de um amor que não viveu.
Um dia,voltará a sorrir,mas há algo diferente,ela não sabe explicar.Seus pensamentos vão até um passado distante,cheio de poesia,era ingênua e sonhadora,tinha um olhar que buscava um outro olhar,que a desprezou,nunca soube o porquê.
Sempre que encontrava aqueles olhos,esperava que algo a mais acontecesse,mas uma sombra aparecia de repente,uma timidez talvez e  a espera se tornava inútil.
Nunca demonstrou fraqueza,mas quando chegava em casa desabafava,chorava com raiva dele e dela mesma.
E ia levando a vida.
Toda vez que o encontrava,sorria e nada cobrava.
Cobrar por quê?
Se ele nunca havia prometido nada.Ela é que se apaixonara,ele não.
Ele ficou em um passado,distante,uma recordação ou uma saudade,não importa.
A verdade é que ali,em Belo Horizonte ela se recorda de Caratinga,dele,de um amor que não aconteceu,da rejeição que sofreu,da dor que sentiu.
Saiu renovada,desceu as escadas e caminhou pela avenida,quantos sonhos se desfizeram,cada pessoa que passa,cada um com seus problemas.
Lembra de um dia em que estava em uma manifestação e por um instante sentiu um olhar diferente em meio a multidão,era ele, tinha certeza,mas quando o procurou,havia sumido.
Naquela noite de volta para casa,não quis conversar com as colegas,veio calada,sofrendo.
Mas onde estava aquele olhar?Deve ser cansaço ela pensou.
E mesmo que fosse ele,não poderia,era fiel ao marido.
E volta novamente a lembrar do dia em que ele apareceu em sua casa,como sofreu em recebê-lo,decepção,motivo bobo que não justificava sua presença.Se manteve firme,não demonstrou emoção.
Naquela noite,chorou sem saber o motivo,sabia sim,só que fingia para si mesmo.
Nunca o esqueceu e nunca se perdeu por ele, viveu intensamente sua vida,não do jeito que queria,mas viveu e é isso que importava.
Nada tinha para se envergonhar ou aos seus filhos,fora honesta com o marido.
Não o amava,mas o respeitava.
Teve alguns momentos felizes,seus filhos são os melhores presentes que a vida lhe deu.
Espera um dia ser avó.
Caminha em direção à rodoviária,regressará em breve,BH é sua paixão.
Na volta tenta dormir,não consegue.Relembra fatos que pareciam esquecidos para sempre.
Chega em casa,toma um banho bem demorado.Deita e toma uma decisão de não mais pensar no passado e começar buscar felicidade onde ela estivesse.
Antes de dormir ela sente que havia um cheiro forte de flores e vela na casa.
Teve um pressentimento ruim.Cansada dormiu e sonhou que naquele dia em um hospital de Caratinga alguém estava deixando esta vida e ia embora pensando nela.
Acordou e lembrou do sonho,sorriu e pensou,"onde uma pessoa morrendo pensaria nela''
 e  inconsciente ouviu  uma musica italiana e passou o dia muito triste como se tivesse acabado de perder seu único e grande amor.
Pensou no passado,e decidiu que no outro dia a saudade teria fim,procuraria por ele e daria a ela  a chance de ser feliz,o faria olhar em seus negros olhos e receber o carinho que sempre guardou, só para ele.













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Membro fundador da Academia Inhapiense de Letras