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sábado, 26 de outubro de 2019


Não havia nada mais além de um vazio,que consumia e ardia tanto ,como se purificasse a alma cansada da luta.


Era uma tarde linda depois de vários dias nublados,daqueles que sugerem elegia.Uma música da década de 60 tocava ao longe,uma melodia rebelde como muitos jovens daquela época.Assim ela ouvia sua avó dizer daquele período,em que o mundo dava saltos e a vovó não conseguia acompanhar.Ah,se ela vivesse agora!As mudanças são rápidas ,que até os jovens se assustam,jovens não,ela uma mulher madura,divorciada duas vezes e que ainda acredita em príncipe,tolices de sua geração,ela pensa.
Nunca teve filhos.
E confessa não sentir falta deles.
Religião não tinha,achava que falseava a verdade.Gostava de dizer ser espiritualista.Amava andar descalça e usava um minúsculo “short”azul ;Suas pernas desengonçadas compunha de forma estranha aquele corpo cujo rosto era de uma beleza sem igual.Era uma excelente tradutora,amava seu ofício.Ler fazia parte de seu trabalho.Conhecia muita gente e viajava muito.Vangloriava de ter experimentado cervejas do mundo inteiro.Era fascinada por elas.Seu humor variava de acordo com a quantidade da bebida que ingeria,pois a qualidade depois de algumas já não fazia diferença.

Uma cinquentona,sonhadora,mesmo negando ela esperava por alguém.Incrível como o ser humano adapta as diferentes situações.Ela nunca pensou em morar em uma cidade pequena do interior do Espírito Santo.
Ela que morou em lugares sofisticados,que frequentou as mais badaladas rodas sociais,afinal os maridos eram ricos e bem conceituados.Ela é que colocou um ponto final em seus relacionamentos,entediava com facilidade.Agora ali´é como se revestisse da humildade que nunca teve.Alugou um apartamento,cansara do hotel.
Muita coisa havia mudado desde a última noite.
O príncipe estava por perto. Lindo,encantador.
Ela o conheceu em um desfile na cidade de Milão.Tinha sido apresentada por uma conhecida em comum.
Dois brasileiros em um outro país,acabaram saindo e aproveitando o que de melhor havia na cidade.
Ela ficou mais uns dias para cumprir agenda de trabalho,no entanto a imagem daquele que por alguns dias foi seu companheiro,não saía de sua cabeça,a perturbava.


Agora, em uma delegacia ela presta depoimentos com o coração em retalhos e a alma desbotada.Como se vivesse um pesadelo.
Como se fosse uma metamorfoseada de Kafka.
Um filme terrível passava em sua mente débil.
Seus olhos angelicais desfizeram e um olhar de sangue ocupava o lugar.
É interessante como a vida modifica em um segundo.
O príncipe por quem ela sonhava desatinadamente ,que a fez morar em uma cidadezinha litorânea,a quem ela planejava viver até o quanto desse,esse mesmo,
o lindo com alma de demônio a arrastava para o precipício e quase destruiu seu corpo com tanta chicoteada.Em transe ele invocava todo tipo de mal e dizia ser ela a maldade em pessoa.
Ele não acreditava no amor,vivia em constante crise de identidade e naquela noite ele se transfigurou e bateu tanto, que se não fosse o garçom do restaurante e alguns clientes que a socorreram,ela estaria morta.


O delegado a indagava e ela atormentada não emitia sons reconhecíveis.
Uma pobre mulher rica vítima de um tresloucado,que nunca soube ser homem e companheiro.

E ele ficará solto por aí,pois ela não quis prestar queixa. E por covardia ninguém testemunhou contra ele.
Ela se encontra no aeroporto.
Voltará,mas para onde?
Corpo dolorido,alma vazia.
Quem preencherá o vácuo deixado?
O vôo é anunciado.

Dá um tímido adeus a capital Vitória,que naquele momento parecia sentir seu sofrimento e uma fina chuva caía.



Eu

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Meus lindinhos

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Membro fundador da Academia Inhapiense de Letras